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As Quintas-feiras

Atualizado: 23 de fev. de 2022

As quintas-feiras no bairro da Bela Flor já cheiram a agrofloresta, um pouco à semelhança das padarias de bairro que emanam um cheiro a pão quentinho logo pela manhã. É certo que este lugar especial aromatiza o bairro a semana inteira, mas nestes dias, logo pela manhã, a chegada dos dinamizadores do projecto Bela Flor Respira, e dos seus voluntários, faz agitar as plantações que parecem sentir que vão ser acarinhadas pelo toque humano.

Hoje foi dia de colocar novas estacas para sustentar as plantações, trabalho este que começou depois de almoço, uma vez que de manhã foram surpreendidos pela visita da Câmara Municipal de Lisboa que fez algumas filmagens e fotografias na Agrofloresta. Este tipo de visitas é algo que lhes é familiar, pois felizmente tem havido muito interesse em conhecer e difundir a beleza deste projecto e a sabedoria que nele existe. Acredito também, por ser algo um pouco exótico na cidade de Lisboa, ao contrário das hortas comunitárias espalhadas por bairros sociais que são já parte do seu ADN.

Depois do almoço dos dinamizadores com os voluntários, no parque de merendas da Bela Flor, aconteceu no mesmo lugar uma reunião que deu origem a novas decisões, algumas delas fruto de um inquérito feito aos moradores pelas mãos da Leonor, uma das crianças que frequenta habitualmente a Agrofloresta. Parece que o cheiro a Agrofloresta passará a ser intenso também às segundas-feiras, com a presença da Cátia, a dinamizadora do projecto, responsável pela parte lúdica e social deste espaço.

Enquanto o mestre Joaquim, junto com os voluntários, iniciava o trabalho de colocação das estacas nos canteiros, a Cátia preparava algumas actividades com as crianças do bairro. Embora eu seja um curioso, e um entusiasta, pelas técnicas usadas na agricultura sintrópica, a minha condição física não me permite envolver no trabalho braçal que esta exige. Por esse motivo, decidi acompanhar a Cátia no grande desafio que é trabalhar com crianças, sobretudo as que crescem em bairros sociais, vindas de famílias com baixos recursos económicos, e algumas até, de famílias disfuncionais. Sei por conhecimento empírico, pois sou filho dessa realidade, e trabalhei em vários projectos de acção social com crianças e jovens, nos bairros mais ostracizados da periferia de Lisboa.

A Agrofloresta funciona para estas crianças, e para toda a comunidade, como uma espécie de ponte do bairro para o resto do mundo. Permite-lhes, dentro do bairro, conhecer outras perspectivas, e experienciar outras realidades, através dos olhos da Cátia, do Joaquim, da Isabel, da Cristina, da Carolina, e dos vários voluntários que vêm de fora do bairro, alguns até do país, para doar, semear e partilhar.

Entre os meus passeios pelos canteiros, as minhas observações atentas no espaço, e as conversas enriquecedoras que ali somei, passou-se mais um dia, sem me dar conta, e longe de ecrãs azuis. Estou grato por esta oportunidade de me poder conectar com a natureza, dentro desta selva de betão que um dia deixará de o ser, por conta da capacidade de sonhar de quem sustenta projectos como este.

No final da tarde, tivemos estacas colocadas, pessoas conectadas, e crianças felizes… Leandro Myslo


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